Um maior sucesso do departamento de compras está diretamente ligado a um bom conhecimento de logística, principalmente de Incoterms. Por mais que algumas empresas foquem em alguns específicos para a maioria de suas ordens de compra, entender bem o funcionamento de todos aqueles disponíveis, pode ajudar na velocidade de entrega, redução de custos e, principalmente, na contenção de riscos. É certo que o departamento de compras, como parte da cadeia de suprimentos, conta com uma forte assessoria de profissionais de logística, agentes de carga, seguradoras, entre outros, mas é o comprador quem negocia e determina qual Incoterm será usado em cada compra, e, portanto, qual a responsabilidade da empresa no transporte da carga e o custo total da aquisição da peça, que inclui transporte e encargos.
Este cálculo completo de custos é possível através do indicador “custo total da propriedade”, sobre o qual já discorremos em nosso blog. Ele inclui os custos da aquisição, das transações financeiras, da oportunidade, logísticos, da flutuação da moeda e da regulamentação comercial.
A redução de custo acontece quando, ao mapear este valor total de propriedade, é possível calcular valores relacionados a cada encargo, prevendo os gastos de cada parte envolvida, comprador e vendedor, e avaliando possíveis economias que podem ser feitas através da escolha do Incoterm.
Considere nesse mapeamento, possíveis custos de sinistro, como o recente acidente do Ever Given. Neste caso, os responsáveis pelos riscos e acionamento do seguro são definidos pelo Incoterm na ordem de compra de cada produto a bordo do navio.
Definições dos Incoterms
Propomos a revisão dos pontos mais importantes definidos pelos Incoterms e que devem ser mantidos em mente durante as negociações de cada ordem de compra. Os Incoterms:
- Definem o momento preciso da transferência de risco (responsabilidade de perdas e danos) entre o vendedor e comprador, assim como transferência de custos e despesas adicionais.
- Limitam-se a questões relativas a direitos e obrigações das partes de um contrato de venda e a respectiva entrega das mercadorias tangíveis.
- Definem quando e onde a mercadoria estará à disposição do comprador.
- Estabelecem qual das partes deverá providenciar o veículo de transporte internacional.
- Definem as funções de cada uma das partes relacionadas a contratação de seguro (obrigatório em alguns Incoterms), frete, obtenção de documentação de embarque e de exportação.
- Definem o ponto crítico de custo, ou seja, momento de transferência das despesas com transporte, seguro, movimentação de carga de terminal, direitos aduaneiros, ou seja, todos os valores necessários para seguir com a operação.
Com o objetivo de discutir e esclarecer os principais pontos a serem considerados por compradores na hora de escolher os Incoterms das ordens de compra, convidamos a líder de Logística da Soluparts, Iara Lasmar Chaves para discorrer um pouco sobre o assunto:
A importância dos Incoterms no comércio internacional
De acordo com dados publicados pelo Governo Federal Brasileiro por intermédio do Ministério da Economia, em 2020 “a balança comercial brasileira teve superávit de US$ 50,9 bilhões.Mas o que isso significa? Significa que o Brasil exportou mais que importou?
Se analisarmos tecnicamente, em números, sim, de fato. Porém, o que proporcionou que os negócios fossem tão lucrativos e rentáveis? Sabemos que não basta apenas exportar e importar, precisamos enxergar a situação de uma forma mais micro analítica.
Tal análise começa nos termos que irão permear os contratos internacionais. Tais termos são conhecidos mundialmente como Incoterms. Os Incoterms foram criados pela ICC (Câmara Internacional do Comércio) em 1936, pois já se entendia que era necessário padronizar e simplificar as negociações internacionais. Desta forma, são formuladas 11 siglas que são conhecidas por Termos Internacionais de Comércio. Reveja nosso artigo com a definição de cada um clicando aqui.
Como o próprio nome diz, são nomenclaturas que irão auxiliar a determinar a transição de responsabilidade entre importadores e exportadores sobre frete internacional, seguro, taxas e impostos adjacentes.
Por determinação da ICC, os Incoterms recebem uma revisão de 10 em 10 anos. A última que tivemos e que está em vigência atualmente é a de 2020.
Os Incoterms são divididos em quatro grupos. Tais grupos são definidos pelas responsabilidades das partes. Não se engane, os Incoterms devem sempre ser vistos pela ótica do exportador.
Grupo E (ex) – detém a menor responsabilidade para o exportador;
Grupo F (free)– transporte internacional não é de responsabilidade do exportador;
Grupo C (carriage) – transporte internacional é de responsabilidade do exportador;
Grupo D (delivery)- detém a maior responsabilidade para o exportador.
O que considerar na escolha dos Incoterms
Toda empresa exportadora/importadora deve se inteirar sobre o que cada termo significa. A escolha do Incoterm ideal para o seu negócio depende, além do conhecimento prévio, pelo ato de negociar.
Todo processo de compra parte deste mesmo princípio e com os Incoterms não é diferente. Portanto, negocie! Lembre-se que os Incoterms foram criados como meio facilitador do comércio e não como impedimento do mesmo. Negociando, ambas as partes possuem maiores chances de saírem satisfeitas.
Desta maneira, recomendamos conhecer a fundo as possibilidades oferecidas por cada Incoterm para negociar aquele que é o mais vantajoso em termos de risco, responsabilidade e custos para sua empresa. Mantenha em mente que a responsabilidade de perdas e danos sobre a mercadoria influencia de forma decisiva na contratação de uma operação de exportação.
Calcule os custos de transporte
Além da negociação, é importante compreender todos os custos adjacentes do Incoterm escolhido para permear a transação. Partindo do princípio que no comércio exterior, existem taxas, custos e impostos que são inerentes à importação/exportação, a garantia do menor preço por produto não é necessariamente a melhor escolha se, futuramente, haverá um comprometimento do lucro devido a valores adjacentes não considerados inicialmente.
Confira a credibilidade das partes envolvidas
Precisa-se levar em conta, adicionalmente, que os processos de compra e negociação se dêem com empresas que possuem histórico íntegro, de comprometimento e de valores sólidos. Desta forma, o risco para sua empresa diminui.
Acordos comerciais internacionais
Por fim, mas não menos importante, o Comércio Exterior detém muitas oportunidades vinculadas a acordos comerciais entre países. Isso implica em expansão de parceiros comerciais, mas também em taxas e custos específicos para determinados países.
As autoridades de governos podem influir direta ou indiretamente nas decisões sobre em que bases exportar ou importar para obter saldo positivo das balanças comerciais dos países envolvidos. Diante disso, empresários podem ser conduzidos a vender CIF e a comprar FOB, condições que apesar de implicarem maior responsabilidade, favorecem, por exemplo, seguradoras nacionais.
Neste caso, consultar um especialista de despacho é a melhor opção para evitar gastos indesejados no final do processo de compra.
Conclusivamente, propõe-se o retorno à afirmação que iniciou e inspirou a escrita desse artigo. Após o exposto, qual o papel de sua empresa no superávit da balança comercial de seu país?
Artigo escrito por Iara Lasmar Chaves, bacharel em Relações Internacionais, MBA em COMEX e Negociação Internacional.
https://www.linkedin.com/in/iara-lasmar-35300b179/
Por Iara Lasmar Chaves
Head of logistics at Soluparts
Com o objetivo de te ajudar na escolha do Incoterm ideal para suas ordens de compras, a Soluparts preparou um infográfico gratuito com o momento exato de transferência de responsabilidades e risco pela carga entre comprador e vendedor em cada Incorterm.
Apontamos também as definições e especificidades de cada termo. Para baixar esse material que vai facilitar sua rotina, reduzir seus riscos e poupar seu tempo, clique abaixo:
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